Por que os próximos anos serão os mais inovadores da história?
Por Luis Felipe Carvalho em 10/04/2013 às 22:15 h
Há cerca de seis meses atrás Vivek Wadhwa, vice-presidente de inovação na Singularity University, escreveu um artigo para o blog Venture Beat afirmando seu otimismo em relação ao potencial exponencial de inovação reservado para os próximos anos. A base do seu otimismo estava centrada em uma divertida revolução tecnológica que estamos vivendo, que é a revolução do acesso. Nunca na história da humanidade cidadãos comuns tiveram tanto acesso a tecnologias tão sofisticadas. Segundo Wadhwa, o amplo acesso a tecnologia está permitindo que pequenos times locais realizem tarefas que antes só eram possíveis para governos ou grandes corporações. No seu entendimento este processo de difusão vai ajudar a resolver muitos dos grandes desafios da humanidade, incluindo energia, educação, acesso a água, alimentação e saúde. Pense, por exemplo, no mapeamento genético cujo preço está caindo exponencialmente. Na prática, um sequenciamento genético que a alguns anos atrás poderia custar mais de um milhão de dólares, pode ser hoje feito por US$ 99 em sites como o 23andme. Dados genéticos estarão disponíveis em breve para milhões, ou quem sabe bilhões de pessoas em todo mundo.
Nós estaremos aptos a descobrir correlações entre doenças e o nosso DNA e assim prescrever medicações customizadas para o DNA de um indivíduo específico. Será uma grande transformação na medicina e na indústria farmacêutica. Usando a expressão de Paul Freeman, um bem sucedido empreendedor da área farmacêutica que esteve recentemente na PUC-Rio, os medicamentos vão deixar ser um tiro de canhão para se tornar um tiro de rifle. Atualmente os medicamentos são desenvolvidos para que tenham efeito em uma parcela muito grande da população, mas não funcionam para todos. No futuro os medicamentos serão desenvolvidos para cada indivíduo baseado em sua informação genética - por isso Freeman faz esta analogia entre o tiro de canhão e o tiro de rifle. Pessoalmente gosto do exemplo do 23andme porque fiz o sequenciamento há um ano atrás e um novo mundo se abriu para mim em termos de entendimento da minha constituição genética, propensão a certas doenças, além de alguns primos desconhecidos que encontrei no serviço de matching de parentes que o site disponibiliza, baseado na similaridade genética entre pessoas que fizeram o mapeamento. Avanços em biologia sintética estão possibilitando que pesquisadores e até mesmo estudantes criem organismos e formas sintéticas de vida. Empreendedores desenvolveram aplicativos para projetar e compilar DNA. Já existem startups que oferecem serviços de síntese de DNA. Esta forma de impressão de DNA é precificada pelo número de pares básicos a serem montados (os bits químicos que formam um gene). Atualmente o custo é de cerca de trinta centavos de dólar por par e os preços, assim como no sequenciamento genético no passado recente, estão caindo exponencialmente. É muito provável que vejamos em breve impressoras de DNA como um equipamento doméstico. E não é só DNA que podemos imprimir. No mundo nascente da manufatura digital as impressoras 3D permitem atualmente a produção de pequenas peças, como brinquedos, joias, implantes médicos e até mesmo vestuário. Um recente projeto no site de crowdfunding Kickstarter anunciava uma impressora 3D por US$ 499 - busque no Google por Printrbot. O projeto recebeu o suporte de quase duas mil pessoas e alavancou mais de oitocentos mil dólares em recursos. Em um futuro muito próximo as impressoras 3D devem estar disponíveis como itens de consumo com um potencial disruptivo em diversas categorias de produtos que conhecemos atualmente. Muitas indústrias vão parar de fabricar os produtos e passar a focar na comercialização do design. A produção fica a cargo de cada casa, de cada indivíduo. Talvez o seu filho não compre mais os brinquedos dele em uma loja física e nem mesmo em um e-commerce da forma como conhecemos atualmente. Muito provavelmente ele vai acessar o design e imprimir novas peças de LEGO em sua casa.
É difícil de imaginar a quantidade de inovações que podem surgir de produtos, processos e serviços neste mundo de disrupção tecnológica baseada no acesso. Para os otimistas como Vivek Wadhwa o acesso tecnológico vai resolver os problemas de falta de energia, alimentação, purificação de água de forma barata a partir de qualquer fonte, a cura de doenças e a educação em massa da humanidade. O agente principal que vai promover estas soluções não é o governo, mas sim os empreendedores do mundo - é bom ver o controle da transformação na mão dos indivíduos. Porém o artigo termina com uma contraposição ao otimismo das potenciais mudanças que seguem. Todas estas inovações tem também um potencial destrutivo se não forem usadas com responsabilidade. Veja o caso da informação genética. Se esta não for utilizada com parcimônia pode conduzir a discriminação e preconceito entre as pessoas. Parece que os parâmetros da ética nesta era de disrupção tecnológica ainda não foram bem definidos. Será que a humanidade vai evoluir de forma rápida o suficiente para acompanhar sua crescente responsabilidade?
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Luis Felipe Carvalho é professor do Departamento de Administração e Coordenador do Centro de Empreendedorismo da Puc-Rio. E-mail: luis.felipe@puc-rio.br